As Plantas Alimentícias Não Convencionais, ou PANC, estão ganhando popularidade à medida que cresce a demanda por dietas diversificadas, sustentáveis e mais naturais. PANC é um termo que inclui plantas de fácil cultivo e grande valor nutricional, mas que, apesar de comestíveis, são pouco conhecidas ou utilizadas na alimentação convencional. Neste artigo, vamos explorar os benefícios nutricionais, o papel dessas plantas na sustentabilidade ambiental e como elas podem contribuir para a segurança alimentar.

O que São PANC?

PANC refere-se a qualquer planta ou parte de planta que possa ser consumida, mas que ainda não está presente no cardápio tradicional. As PANC podem incluir espécies nativas ou exóticas, plantas espontâneas de quintais, hortas e campos. Entre os exemplos mais comuns, encontramos o ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), a taioba (Xanthosoma sagittifolium), a beldroega (Portulaca oleracea), o peixinho (Stachys byzantina), entre outras.

Esse conceito foi popularizado pelo botânico brasileiro Valdely Kinupp, que classificou e catalogou diversas espécies de PANC em um estudo abrangente, incentivando o uso dessas plantas em receitas do dia a dia.

Benefícios Nutricionais das PANC

Diversas PANC são ricas em vitaminas, minerais e compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Abaixo estão alguns exemplos e seus benefícios nutricionais:

• Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata): Uma das PANC mais conhecidas, o ora-pro-nóbis é uma excelente fonte de proteínas (contendo cerca de 20% de proteína em sua composição), além de ferro e fibras, o que o torna um aliado na prevenção de anemias e na regulação do trânsito intestinalBeldroega (Portulaca oleracea):** Rica em ômega-3, esta planta é uma alternativa às fontes tradicionais desse ácido graxo, como peixes e oleaginosas, sendo especialmente útil para vegetarianos e veganos. Além disso, contém antioxidantes que ajudam a proteger contra doenças cardiovasculares .

• Tthosoma sagittifolium): Fonte de fibras, cálcio e vitaminas A e C, a taioba ajuda a fortalecer o sistema imunológico e contribui para a saúde óssea e ocular. No entanto, é importante que seja consumida cozida, pois crua contém compostos antinutricionais que podem ser prejudiciais .

Contribuição para a Segurança Alimentar e Sustentabilidade

As PANC também são promissoras no enfrentamento de problemas globais como insegurança alimentar e degradação ambiental. Estas plantas costumam ter fácil adaptação a diferentes tipos de solo e clima, necessitando de menos insumos químicos e menor quantidade de água para o cultivo. Esse aspecto faz das PANC uma alternativa viável para a agricultura sustentável e de baixo impacto ambiental .

Além disso, o cultivo dtribui para a diversidade agrícola, reduzindo a dependência de culturas convencionais e introduzindo variedades ricas em nutrientes que podem complementar a dieta básica. Essa diversidade também ajuda a manter os ecossistemas locais saudáveis, beneficiando polinizadores e enriquecendo o solo.

Aspectos Culturais e o Resgate de Tradições Alimentares

Outro ponto relevante é que o uso das PANC resgata e valoriza tradições alimentares locais, muitas vezes esquecidas com o passar do tempo e a modernização das dietas. No Brasil, por exemplo, a taioba, a araruta e o mangarito eram consumidos pelos indígenas e comunidades rurais, sendo substituídos por vegetais introduzidos pela colonização. O resgate dessas plantas enriquece a cultura alimentar e fortalece a conexão com o meio ambiente .

Desafios e Considerações no PANC

Apesar das vantagens nutricionais e ecológicas, algumas PANC requerem cuidado no preparo, pois certas espécies podem conter compostos antinutricionais ou tóxicos quando consumidas cruas ou em excesso. Um exemplo disso é a taioba, que deve ser cozida para a remoção de oxalatos que podem prejudicar a saúde renal em pessoas suscetíveis. Da mesma forma, é essencial identificar corretamente as PANC para evitar a ingestão de plantas semelhantes que não sejam comestíveis .

Conclusão

As Plantas Alimentícias Nãonais representam uma alternativa inovadora para promover uma alimentação mais sustentável e diversificada, com impacto positivo para a saúde e o meio ambiente. Incorporá-las à dieta requer conhecimento sobre as melhores práticas de cultivo e preparo, mas o esforço é recompensado com nutrientes variados e benefícios para a biodiversidade. À medida que o interesse por essas plantas cresce, a inclusão das PANC em hortas, mercados e cozinhas poderá contribuir significativamente para a segurança alimentar global e a preservação dos recursos naturais.

🍴 Receitas Sugeridas:

- Pesto de Bertalha (PANC) com Castanha-do-Pará

- Limonada de Framboesa e Manjericão

Referências

1. Kinupp, V.F., & Lorenzi, H. (2014). Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Instituto Plantarum de Estudos da Flora.
2. Simopoulos, A.P. (2004). "The Importance of the Omega-6/Omega-3 Fatty Acid Ratio in Cardiovascular Disease and Other Chronic Diseases." Experimental Biology and Medicine, 233(6), 674-688.
3. Almeida, R., et al. (2021). "Nutritional Composition and Bioactive Compounds in Edible Brazilian Plants with Emphasis on Non-Conventional Vegetables." Foods, 10(9), 2125.
4. Chivenge, P., Mabhaudhi, T., Modi, A. T., & Mafongoya, P. (2015). "The Potential Role of Neglected and Underutilized Crop Species as Future Crops Under Water Scarcity in Sub-Saharan Africa." Agricultural Water Management, 159, 261-274.
5. Ferreira, T.A.P.C., & Curado, M.A. (2015). "PANC: Diversidade Biológica e Valorização do Conhecimento Tradicional." Revista Brasileira de Agroecologia, 10(3), 207-216.
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